sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Você é X, seu filho é Y

Surge uma geração que consegue fazer o dever de casa enquanto ouve o iPod, tecla no MSN, aguarda um download e troca torpedos. Para essas mentes multitarefa, a escola precisa oferecer mais do que giz e saliva do professor. Aqui, os caminhos para educar (em casa – isso é com você – e na escola) jovens e crianças que aprenderam o sentido de play antes de montar uma frase inteira em português 

Paulo de Camargo


Provavelmente, você se lembra de quando seus pais lhe davam broncas carinhosas perguntando como conseguia estudar com os fones do walkman no ouvido. Agora, veja a si mesma observando seus filhos sem compreender como eles conseguem fazer a lição de casa, acessar o Orkut, ouvir música no iPod, fazer um download, falar ao celular e ver TV – tudo ao mesmo tempo. Algo mudou, não é? No admirável mundo novo da tecnologia, uma geração diferente de jovens surgiu, com muitas características com as quais pais e educadores estão, a duras penas, aprendendo a lidar. Estamos diante da geração Y. Esse foi o termo encontrado por pesquisadores e profissionais da área de recursos humanos para tentar entender o comportamento de crianças e jovens multitarefa, ou seja, que fazem muitas coisas simultaneamente, são colaborativos, ágeis, compartilham ideias com facilidade e mostram-se acostumados a um ambiente de mudanças e de incertezas. A expressão surgiu na década de 1990, mas vem se popularizando. “Enquanto os adultos com mais de 30 anos nasceram no mundo analógico, a geração Y cresceu imersa nas infovias, com acesso ilimitado a imagens, sons e outros recursos de comunicação”, afirma a pesquisadora Cristina Cano, estudiosa das diferenças geracionais, da Universidade de Barcelona, na Espanha. Segundo ela, há um gap com o qual precisamos aprender a conviver, pois somos verdadeiros imigrantes nesse mundo. Os adultos representam a geração conhecida como X, pós-baby boom (a grande explosão populacional do pós-guerra). De maneira geral, são pessoas que brincaram na rua e têm uma relação no máximo amigável com o computador. Os filhos – daí o Y – já conheciam o play e o stop aos 3 anos. E há quem já fale em geração Z para incorporar outros aspectos, como a disseminação e a sofisticação crescente dos games. Não se trata apenas de ter mais brinquedinhos eletrônicos à mão. Há muitas mudanças que não devem ser desprezadas. Segundo os especialistas, entre as características dessas novas gerações está a organização em comunidades de valores – isso explica a explosão de sites de relacionamento, como Orkut, Facebook e MSN. Na era digital, esses grupos se multiplicam exponencialmente, influindo no modo como consomem, formam juízos de valor e se informam. Nós confiávamos nas enciclopédias, enquanto eles recorrem a redes in termináveis para descobrir o que querem e para expressar suas preferências, seus desejos e suas posições.

Além dessa vida comunitária intensa, há diversos pontos em comum entre os jovens de hoje, segundo Renato Trindade, presidente da Bridge Research, empresa de pesquisa que estuda o comportamento das novas gerações, entre outros assuntos. “Eles clamam por feedback e resultados imediatos. Se não percebem que estão evoluindo, têm dificuldade em continuar insistindo”, observa. No mundo do trabalho, essa carapuça serve para jovens que trocam de emprego a cada três meses. Na sala de aula, questionam o tempo todo se o que estão aprendendo vai adiantar para alguma coisa. Para entender e educar essa geração, é preciso saber que são bastante diferentes de nós. Mais do que nunca, os pais devem encontrar nas escolas bons parceiros para lidar com essa nova realidade. A escolha da escola e o acompanhamento do aprendizado tornam-se especialmente importantes nesse contexto – sem esquecer que a presença da família continua imprescindível.

Professor X diz “vovô viu a uva”.O aluno, que passa horas na net, ouve isso e se sente um ET 
MARIO SERGIO CORTELLA
http://claudia.abril.com.br/materias/4114/?pagina1&sh=31&cnl=53&sc=


Filas + giz + saliva = indisciplina

Não é algo simples. A educação vive um período de grandes contradições. Ao mesmo tempo que se dispõe a preparar os cidadãos do século 21, sobrevive amarrada em estruturas seculares – como colocar uma criança atrás da outra em aulas expositivas que seguem a velha fórmula do giz e saliva. Por isso, nas salas de aula, um dos sintomas para esse gap entre professores e alunos se traduz em indisciplina. “Quando um aluno que vê horas de TV por dia, acessa a internet e joga videogame chega à escola e ouve o professor dizendo ‘o vovô viu a uva’, provavelmente se sente um extraterrestre. É como se dissesse: ‘Muito bem, leve-me ao seu líder’ ”, costuma brincar o filósofo Mario Sergio Cortella. Em outras palavras, a aula silenciosa, em que um mestre fala por 45 minutos e o discípulo escuta, é uma realidade radicalmente inversa à que vivem os jovens fora da escola. “As crianças navegam num mar de informações que se conectam o tempo todo, e esse entorno acaba por criar uma certa resistência à antiga organização da escola. É cada vez mais difícil prender a atenção dos alunos longamente, ainda que isso fosse possível tempos atrás”, diz o professor e escritor Paulo Bedaque.

A solução não é simplesmente incorporar os recursos tecnológicos ao ensino. A tecnologia precisa estar presente, mas não apenas como um disfarce para aulas que continuam presas aos formatos tradicionais: deve ampliar as possibilidades de pesquisa, de simulação de fenômenos, de interação entre estudantes e professores. Para fazer um teste, cheque se os trabalhos apresentados pelos alunos não são somente um copy-paste de conteúdos encontrados prontos na web. Uma boa escola terá a preocupação de identificar e contornar a tentação da cola high-tech. Do mesmo modo, é preciso não se iludir com a grande facilidade que crianças e jovens demonstram para navegar pelo oceano de informações, pois frequentemente desenvolvem uma relação superficial com o saber escolar. De fato, uma das dificuldades apontadas pelos educadores é o tempo cada vez menor em que os jovens conseguem ficar concentrados num assunto. Não é aceitável, porém, que uma escola use esse argumento para justificar os problemas de aprendizagem. “Se um dos lados tem que aprender como lidar com o baixo poder de concentração, esse lado é a escola, que deve estar atenta às novas demandas da sociedade”, defende Bedaque. Assim, observe as estratégias utilizadas nas aulas das crianças, o interesse que elas manifestam e, sobretudo, a forma como se relacionam com seus professores. “Os estudos que vêm sendo feitos nos últimos dez anos mostram a necessidade de mudança nos padrões de relacionamento e de comunicação entre professores e alunos”, completa o pesquisador Joe Garcia, doutor em educação pela PUC-SP. 
http://claudia.abril.com.br/materias/4114/?pagina2&sh=31&cnl=53&sc=


Comida congelada e roupa suja

A geração Y também pede, desde os primeiros anos, um cuidado especial com a formação de valores. Isso vale para os diversos aspectos da educação. Uma das características marcantes desses jovens é a dificuldade em assumir responsabilidades, lembra Renato. Um exemplo simples: se você deixar, é muito provável que o filhão só saia de casa depois dos 30 anos e ainda volte para pegar uma comida congelada e entregar a roupa suja. No mundo da educação, essa característica, já notada no mundo corporativo, pede uma ação contrária e de mesma intensidade. Mais do que nunca, deve-se mostrar às crianças e aos adolescentes que não há meio-termo: para amadurecer, terão de arcar com as consequências dos próprios atos, e essa lição começa bem cedo. Se a escola se limita a punir as infrações às regras, sem se preocupar em discutir com os alunos o alcance dos seus atos – quando magoam os amigos, desrespeitam o professor ou destroem carteiras –, pouco avanço haverá nesse campo. É preciso que haja tempo e espaço para que os jovens compreendam os efeitos de seu comportamento.

É hora de ir à escola do seu filho e ver como ela está enfrentando o desafio de educar essa nova geração. Seja de um ponto de vista mais conservador, seja adotando um discurso moderno, é fundamental que os diretores e coordenadores tenham opinião formada sobre um tema que não é nada banal – e que essa opinião combine com a sua. Muito mais do que ter computadores à disposição, as crianças e os jovens da geração Y precisam encontrar condições para seguir adiante – não como pessoas imaturas e sem rumo nem como profetas de um novo tempo, mas simplesmente como seres humanos que nasceram dentro de uma nova realidade e necessitam encontrar formas próprias de viver e se realizar.

Geração Y exige resultados imediatos e feedback. Se isso não vem, os jovens acabam desistindo 
RENATO TRINDADE

Foto Chris Parente/Realização Noris Martinelli/Produção Sylvia Radovan/Cabelo e maquiagem Junior Fassina, Glloss/Modelo João Guilherme Gonçalves Giroldo, Vogue Enfant/Móveis, Tok&Stok

http://claudia.abril.com.br/materias/4114/?pagina3&sh=31&cnl=53&sc=
Acesso em 18/1/2011
As 10 competências que seu filho precisa aprender

Não estamos falando de idiomas nem de MBAs: para ser bem-sucedido num mundo de mudanças rápidas e valores sociais em alta, o profissional do futuro terá que mostrar habilidades e comportamentos que não se aprendem na escola. E você é parte vital dessa preparação 

Suzana Lakatos e Fábio Mello

Os pais começam a se preocupar com o futuro dos filhos cada vez mais cedo. A antiga segurança de que o diploma universitário garantiria um bom emprego já não existe. E uma pesquisa do IBGE de 2006 mostrou que 53% dos brasileiros trabalham em profissões diferentes daquelas para as quais se formaram. "Da noite para o dia, surgem novas ocupações, enquanto outras ficam obsoletas", diz a consultora Rijane de Mont'Alverne, presidente do conselho deliberativo da ABRH Nacional - Associação Brasileira de Recursos Humanos. Nesse cenário, a boa formação acadêmica é apenas o bilhete de ingresso para uma dança das cadeiras, em que a conquista de um lugar exige competências que não se aprendem na escola. "Hoje se considera que apenas 15% do sucesso profissional deva-se à formação acadêmica", afirma a psicóloga Mary Nicoliello, que orienta executivos e adolescentes em busca de preparação profissional. "Os 85% restantes estão ligados a questões comportamentais, como a habilidade de lidar com o inesperado, a autonomia e a capacidade de interagir com culturas e pessoas diferentes. 

"Por que de repente essas características se tornaram tão importantes? Em parte, a explicação está no boom de tecnologias a partir dos anos 80. "Atualmente, você interliga experiências, cria redes de interesses sem restrições geográficas e qualquer um aprende com facilidade inúmeras atividades", analisa o psicoterapeuta Leo Fraiman, da Teenager Assessoria Profissional, em São Paulo. Com isso, as competências comportamentais tornaram-se um valor de mercado. "Os grandes diferenciais hoje, atitude e caráter, são desenvolvidos desde a primeira infância. A escola pode até ajudar, mas a família é determinante", garante o headhunter Luiz Carlos Cabrera, professor de gestão de pessoas da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. Já se sabe que crianças cujos pais participam da vida escolar têm melhor rendimento, disciplina e habilidades sociais. Mas é possível ir além. "O segredo é estar próximo do garoto ou da garota e avaliar aspectos como iniciativa, coragem, dinamismo, empatia, criatividade, capacidade de lidar com adversidades e facilidade de relacionamento. O segundo passo é investir em atividades esportivas e artísticas que ponham à prova os pontos fracos de cada um. A natação, por exemplo, exige disciplina, enquanto a música desenvolve o raciocínio lógico e a criatividade", aconselha Cabrera. No dia-a-dia, com pequenas atitudes, você pode contribuir para o desenvolvimento das dez competências e habilidades que vão fazer do seu filho um profissional bem-sucedido e antenado com o futuro. Veja quais são elas e que parte cabe a você.


1 Flexibilidade

Os avanços em todas as áreas acontecem cada vez mais rápido. É fundamental cultivar múltiplos interesses, manter-se atualizado e estar disposto a abrir mão de antigas convicções em favor das novas descobertas. Também não dá para saber o que será essencial no futuro. Por isso é tão importante cultivar a desenvoltura para transitar por diferentes ocupações.
O QUE AJUDA "O hábito da leitura é básico em um mundo que exige formação continuada", aconselha Leo Fraiman. Os livros ensinam a pensar, imaginar, criar, analisar o mundo e as pessoas." Por isso, vale a pena estimular seu filho a ler, mas também é ótimo compartilhar os livros e conversar interessadamente sobre o que ele está lendo.


2 Convivência

Conviver e lidar com pessoas de outras culturas, ritmos, estilos, valores e crenças é indispensável no mundo atual, de acordo com Leo Fraiman. Hoje, a maioria das empresas de sucesso procura recrutar perfis diferentes para reproduzir internamente a realidade do mercado. Como as organizações estão cada vez mais enxutas, características como bom humor, respeito e educação facilitam o convívio.
O QUE AJUDA Estabeleça limites claros e exija que seu filho os cumpra. Mostre a importância de respeitar regras, como horários e uso do uniforme escolar. Ensine-o a perceber os códigos sociais de cada situação - como adotar postura e roupa adequada ao ambiente - e a desenvolver empatia pelas necessidades e valores das outras pessoas.


3 Iniciativa

É um trunfo surpreender o cliente ou o empregador com soluções que ultrapassem as expectativas. Em um mundo dinâmico e em constante transformação, ficar preso a antigas fórmulas pode ser um tiro no pé para o desenvolvimento de uma carreira de sucesso.
O QUE AJUDA Proporcione programas variados - nas artes, na música, no esporte - para que seu filho adquira interesses diversificados e se sinta especialmente motivado a buscar atividades em áreas múltiplas. Além disso, segundo Fraiman, ele precisa ser treinado para "se virar": tornar-se independente e buscar soluções para os problemas. Os pais podem oferecer apoio, mas devem resistir à tentação de resolver tudo no lugar dele.


4 Ética

As próximas gerações precisarão adotar posturas íntegras em relação a trabalho, colegas, fornecedores, clientes e parceiros. As empresas estão cada vez mais aprendendo que o "jeitinho" pode comprometer sua imagem e levar à perda de negócios. A sustentabilidade é outro lema atual do mundo corporativo e implica ser ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. "Na rotina profissional, isso se traduz em atitudes como não querer tirar vantagem do outro, remunerar adequadamente funcionários e prestadores de serviços, pagar impostos e reciclar materiais", ensina Tania Casado, professora de gestão de pessoas da Faculdade de Economia e Administração da USP.
O QUE AJUDA Valores claros dentro de casa contribuem para consolidar atitudes éticas. "Pais que não respeitam semáforo, jogam lixo pela janela do carro e desperdiçam água e energia não podem esperar que o filho tenha condutas corretas", alerta Tania. "Os exemplos começam em casa." Outra boa medida é discutir em família fatos cotidianos que coloquem aspectos éticos em xeque, como os recentes casos de corrupção.


5 Criatividade

Está ligada à capacidade de mudança e inovação, à imaginação, à sensibilidade e ao senso estético. No dia-a-dia de uma empresa, significa aceitar que existem diferentes saídas para um mesmo problema.
O QUE AJUDA Varie os caminhos entre casa e escola, busque programas diferentes para realizar em família e proponha desafios, como o de preparar a própria comida em vez de descongelar uma pizza. Idas ao cinema, teatro, exposições e espetáculos devem ser incentivadas, pois essas atividades alimentam a imaginação.


6 Escolha

Curso de inglês ou de música? Intercâmbio cultural agora ou uma poupança para fazer MBA no exterior mais tarde? "Boas escolhas exigem boa visão de conjunto, análise de prós e contras, percepção de diferentes perspectivas e pensamento em curto, médio e longo prazo." É assim que Fraiman define essa capacidade, que con sidera essencial em todos os momentos da vida - seja para se posicionar diante dos pequenos dilemas do cotidiano, seja para tomar decisões em uma mesa de negociação.
O QUE AJUDA Convide seu filho a participar de decisões em família e a avaliar com você os aspectos bons e desfavoráveis de cada alternativa. Da escolha do restaurante no domingo à roupa adequada a um evento, estimule- o a selecionar o que acha mais razoável e explique que nem sempre se pode ter ou fazer o que se deseja.


7 Auto-estima

"A convicção de ter um papel ativo no mundo e a confiança na própria capacidade caracterizam a auto-estima, que fornece a coragem necessária para levar adiante qualquer projeto", define Fraiman. Mas ela não deve ser confundida com o ego inflado de quem se acha capaz de tudo", explica. Segundo ele, as pessoas mais felizes não são as que se dedicam mais ao lazer, mas as que estabelecem um maior número de atitudes construtivas com o mundo. Isso faz com que se sintam úteis e importantes.
O QUE AJUDA Incentive seu filho a participar socialmente e a ter posturas positivas diante da vida. Se ele é do tipo que vive fazendo projetos grandiosos, ajude-o a planejar metas parciais e objetivas, mais possíveis de alcançar, para que siga acreditando na própria capacidade de realizar sonhos. Na hora de fazer uma crítica, procure condenar o comportamento e não a pessoa.


8 Maturidade

Essa qualidade envolve responsabilidade, disciplina e integridade. "Muito do caos que se vê no país de hoje, como a recente crise no setor aéreo, é um reflexo da falta de maturidade e de comprometimento com os resultados por parte de dirigentes de todas as esferas administrativas do país", afirma Fraiman.
O QUE AJUDA Encarregue seu filho de ajudar nas tarefas domésticas e cobre-o por elas. Diante de pedidos fúteis, procure deixar clara a diferença entre "querer" e "precisar". Exigir que peça desculpas quando pisar na bola pode soar artificial, mas é importante para que ele tome consciência das possíveis conseqüências dos seus atos.


9 Controle

Em tempos de competição acirrada, quem respeita os próprios limites e aprende a relaxar na hora certa tem maior serenidade para fazer boas escolhas, focar metas, eleger prioridades e lidar com fatos novos.
O QUE AJUDA Não sobrecarregue seu filho com o excesso de tarefas. Estabeleça uma rotina que o ajude a conciliar responsabilidade e lazer, como fazer a lição primeiro e sair com os amigos depois. Incentive-o a montar uma agenda selecionando os compromissos da semana e mostre que uma boa organização evita desgastes desnecessários.


10 Comunicação

Significa dizer o que pensa, mas na hora certa, para a pessoa certa e do jeito certo. Essa qualidade envolve a capacidade de expressar idéias e pensamentos, sempre de maneira clara, fluente e organizada.
O QUE AJUDA Observe a maneira como seu filho se expressa. Analise se ele usa muitas gírias e se consegue estabelecer uma linha de raciocínio lógica. Estimule a discussão sobre temas polêmicos e, principalmente, converse muito a respeito dos mais variados assuntos.
Pilares do sucesso

"O desafio é educar o jovem para o trabalho, e não para o emprego." Quem faz o alerta é Luiz Carlos Cabrera, professor de gestão de pessoas da FGV-SP. Segundo ele, no futuro não haverá emprego para todos, mas não faltará trabalho para quem tiver espírito empreendedor. "Os pais podem ensinar o filho a administrar a própria vida, por exemplo distribuindo a renda dele, mesmo que ela seja uma pequena mesada, em 'fundos', aos quais poderá recorrer mais tarde", orienta Cabrera. "Eles devem pensar no filho como alguém que um dia buscará um lugar no mercado", acredita Tania Casado, professora de gestão de pessoas da FEA-USP. Ela destaca os três pilares do sucesso:KNOW-HOW É o que se aprende na escola, como os idiomas. Sempre foi um aspecto muito valorizado.
KNOW-WHY Implica motivar o filho a se conhecer e descobrir os próprios desejos e talentos naturais.
KNOW-WHO É a rede de relacionamentos, ou network. Essas relações devem ser fortalecidas com comportamentos éticos e responsáveis. Isso porque, no futuro, seus membros poderão indicar o jovem a uma vaga, facilitar um contato ou plano de carreira.

http://claudia.abril.com.br/materias/2519/?pagina2&sh=31&cnl=53&sc=
Acesso em 18/1/2011

Como construir o estudante do século 21


As crianças sentadas hoje nos bancos escolares do Brasil estão sendo preparadas para o futuro que as espera? Visitamos instituições de ensino públicas e privadas de São Paulo que propõem estratégias inovadoras para formar os líderes de amanhã 

Sibelle Pedral/ foto Carlos Cubi

Os desafios nunca foram tão imensos, e o papel da escola na superação deles é crucial. Como educar cidadãos para um século que, segundo o historiador inglês Eric Hobsbawm, talvez não seja tão mortífero quanto o anterior, que assistiu a duas grandes guerras, mas que já se anuncia turbulento? Como preparar crianças e jovens para enfrentar – e quem sabe melhorar – uma sociedade desigual e polarizada, com ricos cada vez mais ricos e competitividade crescente?

O que fazer para que a geração que hoje freqüenta os bancos das escolas aprenda a proteger o planeta? Qual a melhor maneira de mostrar a esses jovens, habituados a relações virtuais, quão valioso é o contato físico, o olho no olho?

“Não basta apenas entregar um conjunto de informações: é preciso preparar para pensar”, acredita o educador Moacir Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire, em São Paulo, e consultor da Unesco, o braço das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura. O assunto é tão sério e urgente que, ainda nos anos 90, a Unesco encomendou ao político francês Jacques Delors um relatório sobre a educação para o novo século. No texto, concluído em 1996, Delors indica quatro pilares que devem moldar o aprendizado no nosso tempo: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. “A grande mudança pode ser sintetizada no conceito de educação para toda a vida”, afirma Gadotti. Isto é, a aquisição de conhecimentos não se limita à escola: ela nunca pára de acontecer. “É uma visão holística da educação.”

No Brasil, com um sistema de ensino cambaleante, escolas depauperadas e professores despreparados, os pilares de Delors soam como utopia. Não são. Na linha de frente do ensino, pensando no futuro, várias escolas públicas e privadas vêm experimentando estratégias para melhor preparar crianças e jovens para o complexo século 21. Para pais e mães, as iniciativas delas podem ajudar na escolha do melhor ensino para o filho.

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Aprender com alegria

Há alguns anos, alunos do ensino fundamental da Escola Vera Cruz, em São Paulo, estudaram o ciclo de vida das borboletas de uma forma diferente: trouxeram lagartas para a sala de aula, observaram a confecção do casulo e esperaram. A cada dia, tomavam notas, trocavam impressões com os colegas, interrogavam os professores. Quando os casulos se romperam, houve festa e as borboletas foram soltas numa praça nas redondezas. Ocorre que a história toda levou cerca de dois meses – e um pai de aluno foi à escola tomar satisfações. “Ele não entendia por que precisávamos de dois meses para ensinar o que podia ser explicado em 15 minutos”, lembra Nádia Chaguri Dimitrov, assistente de direção pedagógica. Dissemos a ele que o filho não tinha apenas aprendido sobre borboletas e lagartas: tinha aprendido a fazer pesquisa, observando, escrevendo, buscando e partilhando o conhecimento.” Experiências assim ensinam a gostar de aprender – um prazer essencial quando se fala em educação para a vida inteira.

Para Ana Elisa Siqueira, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, na zona oeste de São Paulo, “aprender não é uma coisa arrumadinha”, e sim um processo pessoal complexo que nem sempre se adapta à estrutura tradicional da escola. Para contemplar a forma de aprender de cada um, Ana fez uma revolução na Amorim Lima: estimulada pelos pais dos alunos – uma comunidade heterogênea, formada sobretudo por filhos de funcionários e de alunos da Universidade de São Paulo –, montou uma grade curricular com roteiros de pesquisa. Cada aluno decide o que quer estudar e organiza seu tempo sob a supervisão de um tutor, num modelo inspirado na Escola da Ponte – escola pública portuguesa em Vila das Aves, onde as crianças não são agrupadas por idade, e sim por interesses. “É um exercício de lidar com o tempo e com a responsabilidade”, explica Ana. O modelo da Amorim Lima, implantado em 2004, obteve autorização da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e segue firme como um novo projeto de escola.

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Quem sabe escolher tem a força

Numa quarta-feira de fevereiro, uma polêmica mobilizou alunos, professores e funcionários da Escola Lumiar, no centro de São Paulo: os alunos podem ou não chupar balas durante as aulas? A questão foi levada à Roda – uma assembléia semanal que trata de assuntos relevantes para a comunidade escolar. Todos puderam opinar e o assunto foi votado (41 contra a bala; cinco a favor). “Formas diferentes de organizar a vida na escola podem nos levar a formas diferentes – e melhores – de organizar a vida em sociedade no futuro”, acredita o educador Eduardo Chaves, presidente do Instituto Lumiar, mantenedor da instituição, idealizada pelo empresário Ricardo Semler. Experiências democráticas no ambiente escolar ainda são raras, mas começam a ganhar espaço. “Quando escolhe o que é melhor para a escola, o aluno enfrenta um problema real do cotidiano e busca soluções”, afirma Simone André, coordenadora da área de juventude do Instituto Ayrton Senna. “Saber escolher é uma macrocompetência fundamental para o jovem do século 21. Ele já se experimenta como cidadão e como futuro profissional dentro da escola.”
A riqueza da diversidade

“Conviver com a diversidade é uma expressão da inteligência humana”, afirma o filósofo e educador Alípio Casali, professor da PUC-SP. Mais do que uma exigência do mercado, que valoriza as diferenças e a contribuição que cada um pode trazer para a organização do trabalho com base na própria história, respeitar o outro é uma questão de sobrevivência da espécie no planeta. “É preciso aceitar a diversidade não apenas com respeito mas também valorizando-a como riqueza”, orienta o educador Moacir Gadotti. Muitas escolas já buscam essa integração. Alunos do ensino médio do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, passam no mínimo dez dias por ano na Amazônia. “Eles recebem muito mais do que levam e guardam essas impressões para a vida toda”, avalia o diretor, Luiz Eduardo Cerqueira Magalhães. Aprendem sobre a necessidade de preservar a floresta e a cultura local e sobre as dificuldades de governar um país imenso como o Brasil. Dão um salto de maturidade.”

Na Escola Lumiar, dos cerca de 85 alunos, 40% têm algum tipo de bolsa. A maioria paga mensalidade cheia, de pouco mais de mil reais, mas há crianças que vivem em casarões invadidos na região e não pagam nada. Andando pela escola, não dá para perceber quem é bolsista. “Criou-se um convívio muito natural”, explica a diretora, Maria Claudia Leme Lopes da Silva. Alguns pais nos procuram por isso. Percebem que é uma forma de educar para a não-violência.”

A psicóloga e consultora Rosely Sayão lembra que “dentro das escolas há uma diversidade incrível”. “Alunos, professores, auxiliares e faxineiros são de classes diferentes, mas a escola acostuma a criança a ficar cega diante disso”, critica. O Colégio Sidarta, em Cotia (SP), encontrou uma maneira simples de derrubar esse apartheid. Ao lado dos bebedouros, costuma haver um pano de chão. Quem derrubar água cuida da limpeza em vez de chamar a faxineira. “Algumas mães protestam dizendo que o filho nunca pegou um rodo”, conta a diretora, Claudia Siqueira. “Respondo: ‘Então esta talvez não seja a escola para o seu filho’.”

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Viva a comunidade!

A escola do século 21 expande seus horizontes para além dos muros. Colégios como o Santa Cruz implantaram um curso supletivo gratuito para adultos no período noturno. Os alunos é que ensinam a esse público especial como se usa o computador, a internet, o PowerPoint. No Colégio Miguel de Cervantes, escola bilíngüe (português-espanhol) na zona sul de São Paulo, os alunos se uniram a uma ONG, o Barracão dos Sonhos, num mutirão para a construção da sede da ONG em Paraisópolis, favela perto da escola. “Eles carregaram pedra. O conhecimento que se adquire com a prática é mais significativo”, observa Antonio Abello Rovai, diretor adjunto para assuntos extracurriculares do colégio.

A aproximação com os moradores do bairro – e os benefícios que nascem dessa parceria – pode significar a diferença entre a vitalidade e a morte de uma escola. Quando a diretora Teresa Cintra e sua vice, Edilamar Caoneto Zago, chegaram à Escola Estadual Professor Isaac Schraiber, no Parque São Rafael, zona leste de São Paulo, em 2002, encontraram um quadro desolador: quatro anos antes, o caseiro fora assassinado numa pendenga envolvendo drogas, e a escola era malvista pelos moradores da região. Ao mesmo tempo, o prédio pichado e tristonho era a única opção de lazer de um bairro de classe média baixa, sem cinemas ou shoppings. Comecei a andar de ônibus e a ouvir o que se falava da escola”, lembra Teresa. “

Então, abri espaço para que os moradores viessem discutir as questões deles.” Uma das primeiras demandas foi a recuperação do poluído córrego Cipoaba, que passa atrás do prédio. “Cheguei a ver peixinhos lá quando era menina”, conta Edilamar. Os alunos se juntaram à comunidade num movimento para recuperar o riacho. Rei vindicaram um tronco coletor de esgoto à Sabesp, conseguiram apoio da subprefeitura e, capitaneados por Edilamar, fizeram um vídeo para internet contando a própria história de cidadania. O trabalho foi inscrito num concurso promovido pela Microsoft em 2006 e levou o prêmio Gestão Escolar e Tecnologia. A recompensa deu visibilidade à escola e rendeu outras parcerias – a mais recente com o Instituto Criar, ONG concebida pelo apresentador Luciano Huck que forma técnicos em áudio, cinema, TV e novas mídias. Antes, as crianças tinham vergonha de dizer que estudavam aqui”, conta Teresa. “Hoje, não temos vagas para todos que nos procuram.”

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A revolução da informática

Um novo mundo de conhecimentos se abre quando a informática é colocada a serviço da educação. Muitas escolas têm laboratórios com computadores dotados de filtros, programas que impedem o acesso a alguns endereços eletrônicos.

“As novas mídias encurtam o tempo de aprendizado”, acredita Moises Zylbersztajn, coordenador de informática do Colégio Santa Cruz. Ali, alunos do ensino médio aprendem a montar um site com todos os recursos disponíveis. Por meio do site da escola, os professo respodem fazer atendimentos virtuais para tirar dúvidas dos alunos. “Oferecemos essa possibilidade e os alunos reagiram bem”, conta Moises. No ensino fundamental do Miguel de Cervantes, o tradicional quadro-negro cedeu lugar às lousas digitais, nas quais o professor projeta a tela do computador que usa na sala de aula. A criança que faltou à aula pode acessar todo o conteúdo perdido no site do colégio.

Tudo muito estimulante, mas a grande questão é como fazer o melhor uso possível das possibilidades que a informática oferece. “Os alunos lidam facilmente com as novas tecnologias, mas de maneira superficial. Usam bem o que lhes interessa, como o MSN”, observa Antonio Rovai, do Colégio Miguel de Cervantes. “Cabe à escola prepará-los para que esse contato seja rico para eles. Informação demais pode se transformar em ruído.”

No final dos anos 80, surgiu na Universidade de São Paulo o Laboratório do Futuro, com o objetivo de estudar como as novas tecnologias podem melhorar o aprendizado. “O Google é uma ferramenta fantástica, mas é preciso ter um pé atrás. Os sites que aparecem nem sempre são os mais indicados, e sim os mais acessados”, alerta Fredric Litto, fundador do laboratório e professor titular da Escola de Comunicações e Artes da USP. Como se ensina a separar o joio do trigo? “Trabalhando o senso crítico da criança e ensinando onde pode averiguar se o que leu na Internet é verdadeiro ou não”, ensina Litto. “Assim não se fica soterrado sob uma avalanche de informação. Quem não souber selecionar corre o risco de ficar inoperante.”
Educação para a sustentabilidade

Despertar na criança a noção de que o planeta está em perigo e prepará-la para defender a Terra é missão da escola no século 21. Faria muita diferença se 1,2 bilhão de crianças que estão nos bancos escolares hoje, no mundo inteiro, vivessem de forma sustentável. Mudaria a história da humanidade”, afirma o educador Moacir Gadotti, do Instituto Paulo Freire. Para isso, não basta plantar árvores: é preciso uma espécie de “fuga do modelo consumista do nosso tempo”, explica. Em todo o mundo, pipocam exemplos de escolas que trabalham com a ecopedagogia, a pedagogia centrada na idéia de sustentabilidade. “Estive numa escola na Escócia em que as crianças realizavam uma ecoauditoria no ambiente escolar e identificavam tudo o que não era sustentável: os alimentos da cantina têm gordura trans? O pátio não tem plantas? Era uma atividade escolar delas.”

O segredo para criar cidadãos conscientes é fazer com que essa preocupação não fique apenas na teoria e ocupe espaço na vida escolar das crianças. Foi o que ocorreu na Escola Isaac Schraiber com a defesa do córrego poluído na região. A luta mobilizou crianças e adultos do bairro e despertou uma verdadeira consciência ecológica.

http://claudia.abril.com.br/materias/2778/?pagina5&sh=34&cnl=47&sc=

Que língua estrangeira é importante saber?


A dupla básica – inglês e espanhol – se mantém em alta, mas há novidades. No Colégio Sidarta, cartazes distribuídos pela escola nomeiam móveis e objetos em mandarim, o idioma oficial da China. Idealizada por um empresário chinês, Chang Sheng Kai, a escola alfabetiza seus alunos numa língua que exige o conhecimento de cerca de 5 mil ideogramas para se comunicar. O ensino começa aos 3 anos. Em julho, intercâmbios com a China permitem checar os progressos. “Damos a nossos alunos a ferramenta para mergulhar numa cultura milenar”, conta a diretora, Claudia Siqueira.
http://claudia.abril.com.br/materias/2778/?pagina6&sh=34&cnl=47&sc=

Conviver é preciso e faz bem

Para o filósofo e educador Alípio Casali, a geração que se prepara para o século 21 enfrenta uma grave crise de socialização. Famílias dispersas, pais ausentes e o distanciamento de instituições tradicionais, como a Igreja, deixam as crianças meio perdidas, sem referências. Os vínculos vêm enfraquecendo aceleradamente, o que está produzindo indivíduos com dificuldades para os relacionamentos sociais”, alerta. A escola do futuro não pode deixar de lado seu papel de socializar adequadamente, ensinando a cada criança o jogo tenso entre ordem e liberdade. “Nos anos 80, o fortalecimento do construtivismo fez com que os alunos buscassem o conhecimento individualmente, formulando hipóteses e buscando respostas. Mas o convívio é uma experiência estruturante. O conhecimento também se dá por transmissão.”

Preocupadas com esse esgarçamento de vínculos, muitas escolas incentivam o trabalho em grupo. “A criança é obrigada a trabalhar mesmo com quem não tem afinidades dentro das regras da boa convivência. Assim, aprende como o outro pensa”, afirma Maria José Godoy Pereira, coordenadora de informática do ensino fundamental da Escola Vera Cruz. Na Amorim Lima, paredes foram derrubadas para criar um salão” de aula onde as crianças trabalham em grupos sob a supervisão de até quatro professores de uma só vez. “Todos se responsabilizam por todos, o que estimula o respeito e permite fazer mais amigos”, afirma a diretora, Ana Elisa Siqueira.

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O poder do acolhimento

Os professores da Escola Isaac Schraiber conhecem praticamente todos os alunos pelo nome – e olhe que são cerca de 1,5 mil, de 12 a 60 anos (a escola oferece educação para adultos à noite). “Sabemos que a mãe de fulano está doente, que o beltrano quer fazer um curso técnico em tal lugar”, conta Edilamar Caoneto. Na Escola Amorim Lima, cada professor – e a diretora também – é responsável por um grupo de até 18 alunos. Os tutores, como são chamados, acompanham os progressos, alertam para as deficiências e ajudam a organizar melhor o tempo de estudo. Gisele Rodrigues Bueno, aluna do 8º ano, tem a mesma tutora desde o 5º ano, quando a escola implantou o atual método de ensino. “Ela sabe tudo sobre mim”, conta. Para o diretor do Colégio Santa Cruz, Luiz Eduardo Magalhães, “cresceu o papel do educador fora da sala de aula”.

A boa escola também ensina a pedir ajuda e acolhe o erro. “O lugar para cometer erros é a escola, onde as conseqüências não são drásticas”, afirma o professor Fredric Litto, da USP. “Lá ele pode tentar, errar, tentar de novo, acertar. A solução oferecida como prato feito não ensina o aluno a pensar.”
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O novo papel do professor

A imagem do professor como figura inquestionável no processo de aprendizado, detentor e transmissor de todo o conhecimento, faz parte do passado. A velocidade com que o conhecimento é produzido o disseminado na sociedade da informação determinou uma mudança no modo de trabalhar. “Muitas salas de aula hoje têm internet, o que faz delas um ambiente que foge do controle completo do professor”, explica Fredric Litto, criador da Escola do Futuro da USP. “Ele não é mais o dono da verdade.” Qual seria, então, a postura mais adequada? “O professor deve ser um organizador do aprendizado”, acredita o educador Moacir Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire, em São Paulo. “É preciso que ensine sem sectarismo, e que pesquise muito – professor que não pesquisa não aprende, e o aluno, que o imita, também não aprende.” Para Claudia Siqueira, diretora do Colégio Sidarta, em Cotia, o professor deve ser capaz de reconhecer as múltiplas inteligências e lidar com elas. “Não podemos perder nenhum aluno”, diz ela. “O professor ideal percebe que cada criança aprende de uma forma e tem os instrumentos para ensiná-la.” No Colégio Miguel de Cervantes, em São Paulo, o professor é considerado um mediador do conhecimento disponível. “Cabe a ele permitir na prática, usando os recursos disponíveis, que o aluno seja produtor de conhecimento numa escala adequada”, avalia Antonio Abello Rovai, diretor adjunto para assuntos extracurriculares. E, por fim, que seja “alegre, interessado, bem-amado e de bem com a vida, como dizia Paulo Freire”, completa Moacir Gadotti.

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As lições do melhor ensino do mundo

Chama-se Pisa o mais respeitado e abrangente sistema de avaliação da educação, criado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Realizado pela última vez em 2006, esse teste deu à Finlândia o título de melhor ensino do mundo, enquanto o Brasil se debate nas últimas posições. Dois pilares sólidos garantiram o bom resultado finlandês: o currículo amplo, de dar inveja, que inclui aulas de arte, música e no mínimo duas línguas estrangeiras, e o investimento na capacitação de professores, de quem se exige no mínimo o mestrado.
Valorizada socialmente, a profissão é a carreira mais desejada pelos estudantes do ensino médio, segundo reportagem publicada na revista Veja (20/fevereiro/2008). Na Finlândia, o currículo é decidido em conjunto por professores, pais, administradores e representantes dos alunos, seguindo coordenadas gerais negociadas com o Ministério da Educação. Matemática, por exemplo, é vivenciada quase sempre em laboratórios, conectando conhecimentos a situações práticas do dia-a-dia. Os alunos também passam mais tempo na escola – 995 horas por ano contra 800 no Brasil. Levam para casa muito dever de casa e são cobrados. Exige-se disciplina – conversar durante a aula não é tolerado. As salas de aula são básicas, com quadro negro e, quando muito, dois computadores. Há pouco mais de 30 anos, a Finlândia tinha dificuldades educacionais parecidas com as brasileiras. Em três décadas, protagonizou uma revolução. O que prova que melhorar o ensino é desafiador – mas não impossível.
Produção Sylvia Radovan/Realização Noris Martinelli

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Acesso em 17/1/2011





terça-feira, 11 de janeiro de 2011

domingo, 9 de janeiro de 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Pacotão para colocar Rio no topo da educação

Professor da rede terá bônus, auxílios para cultura e transporte e capacitação. Licenças médicas de mestres passarão por perícia

POR MARIA LUISA BARROS

Rio - Alunos e professores da rede estadual vão começar a receber no início do ano letivo, em 7 de fevereiro, um pacote de benefícios para tentar passar uma borracha nas notas vermelhas que o Rio colecionou nos últimos 20 anos. O Plano de Metas, anunciado ontem pelo secretário Wilson Risolia, prevê bônus de até três salários a mais no fim do ano — R$ 1.913,52 a R$ 4.737,81 — para quem atingir 100% dos objetivos. Além disso, os 51 mil professores em sala de aula vão ganhar a partir do mês que vem um cartão pré-pago de R$ 500 para comprar livros, ir a cinemas e a teatros.

Professor José Tibúrcio diz que há alunos na rede que não tiveram aulas de Matemática durante todo o ano letivo | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia


“É importante ter acesso a cultura para poder discutir em sala de aula”, diz o professor de Matemática José Tibúrcio, 51 anos. Como ele, todos os funcionários lotados nas unidades escolares receberão no contracheque um auxílio-transporte para custos com deslocamento. No total, serão investidos, por ano, R$ 240 milhões.

Em troca, as 1.462 escolas terão que fazer o dever de casa e atingir as metas agressivas de desempenho estabelecidas pela Secretaria Estadual de Educação, que pretende colocar, até 2014, o Rio entre os cinco estados no topo do Ideb, indicador que avalia a cada dois anos o Ensino Básico em todo o País. Atualmente as escolas fluminenses só ganham das do Piauí.

Risolia acabou com a indicação política para escolha de funcionários em cargos de direção. “Nem eu terei mais a caneta para nomear meu subsecretário. A partir de agora, será tudo por mérito”, afirmou o secretário, que será o único nomeado pelo governador.

Para assumir funções pedagógicas, os professores terão que passar por 4 etapas: análise do currículo, prova, entrevista e curso para certificar que o profissional está qualificado para o cargo.

Com o leque de incentivos, Risolia espera levar de volta às salas de aula parte dos 8 mil professores que estão de licença médica e 2 mil funcionários emprestados a outros órgãos. “Não vamos mais ceder professores, a não ser que arquem com o ônus de pagar os salários. Hoje o salários dos 2 mil professores cedidos é da Educação”, diz o secretário.

Para fazer caixa para os novos investimentos na rede, o secretário Wilson Risolia anunciou o corte de R$ 111 milhões nos gastos da secretaria. No ano passado, a Educação consumiu R$ 847 milhões do Orçamento. Este ano, a meta é utilizar R$ 736 milhões. Risolia pretende chegar a este valor revendo todos os contratos de fornecedores com o estado, de modo que sejam feitos em condições mais vantajosas.

Outra medida prevista no Plano de Metas será a abertura de concurso para técnicos administrativos com o objetivo de liberar para sala de aula os 4 mil professores que hoje ocupam funções burocráticas.

“Claro que não é fácil. A nossa situação não é confortável, por isso temos metas agressivas para a educação”, destacou Risolia, que não teme possíveis reações contrárias ao programa. “Não vai haver resistência. Quem vai ganhar são os jovens. Quem pode ser contra algo tão positivo?”, questiona.

Sai terça-feira edital para contratar 1.362 profissionais

A secretaria publicará edital do concurso para seleção de 1.362 professores de Matemática e Física, na terça-feira. Objetivo é reduzir o déficit de 4 mil professores da rede. “Há alunos no Ensino Médio que não tiveram Matemática o ano todo. Mas a situação vai melhorar quando houver aumento salarial”, diz o professor José Tibúrcio, do Liceu Nilo Peçanha, em Niterói.

Todos os docentes vão fazer cursos de qualificação em universidades e na escola corporativa que será criada pela Secretaria Estadual de Educação. A Escola, localizada na Tijuca, deve ficar pronta em julho. A meta é capacitar 10 mil mestres a cada seis meses.

O secretário já abriu edital para contratar empresa que fará perícia nas 8 mil licenças médicas para ver quem realmente tem condições de voltar às salas de aula. Já os funcionários cedidos terão 30 dias para se apresentar. Se continuarem nos cargos, o salário será pago pelas secretarias onde estão lotados.

Repetentes custam R$ 1,1 bilhão ao ano

Um dos maiores desafios do novo plano de educação será reduzir a repetência. Segundo o secretário Risolia, o estado gasta por ano R$ 1,1 bilhão com alunos que já deveriam ter concluído os estudos. Numa rede que tem 1,25 milhão de matrículas, 450 mil estudantes estão mais de 2 anos atrasados na série. “É um problema grave, porque o estado investiu. Eles não se formaram e tomam o lugar de novos alunos”, diz o secretário.

Para evitar que o aluno perca o ano, os estudantes como os do tradicional Colégio Estadual Souza Aguiar, no Centro, farão simulados a cada dois meses (o primeiro será em abril), receberão reforço escolar no contraturno — aulas extras à tarde para quem estuda pela manhã e vice-versa.

As aulas de reforço serão aplicadas para todas as disciplinas, dependendo da deficiência do aluno. Estudantes do 2º ano do Ensino Médio receberão orientação vocacional voltados para o mercado de trabalho. Mesmo com o volume maior de tarefas professores aprovaram o plano. “Não me importo de aplicar mais provas se tiver reconhecimento pelo meu trabalho”, afirma a professora de Língua Portuguesa, Maria da Consolação Lavorato, 49 anos.

As escolas adotarão currículos mínimos para disciplinas de Matemática, Português, História, Geografia, Filosofia e Sociologia. A intenção é padronizar o ensino. “A mesma aula de Matemática que é dada em uma escola no Leblon tem que ser dada ao aluno do Complexo do Alemão”, afirma o secretário Risolia. Todas as escolas serão avaliadas por um índice próprio, o Iderj (Índice da Educação Básica do Rio), que será aplicado nos anos em que não houver prova do Ministério da Educação.

Bônus pode chegar a R$ 4,7 mil

CÁLCULOS
Os valores consideram o reajuste salarial que entra em vigor em julho.

NÍVEL 1
O piso vai subir para R$ 637,84: com isso, o bônus será de R$ 1.913,52.

NÍVEL 2
Piso de R$ 714,38: bônus chegará a R$ 2.143,14.

NÍVEL 3
Piso de R$ 800,11: gratificação deve chegar a R$ 2,400,33.

NÍVEL 4
Piso vai aumentar para R$ 896,12: adicional poderá atingir R$ 2.688,36.

NÍVEL 5
Piso: R$ 1.003,65. Bônus será de até R$ 3.010,95.

NÍVEL 6
Piso de R$ 1.124,09 e bônus de até R$ 3.372,27.

NÍVEL 7
Piso de R$ 1.258,98 e gratificação de R$ 3.776,94.

NÍVEL 8
Piso de R$ 1.410,66: com o bônus será de R$ 4.231,98.

NÍVEL 9
Piso de R$ 1.579,27 e gratificação de até R$ 4.737,81.

(Fonte: http://odia.terra.com.br/portal/educacao/html/2011/1/pacotao_para_colocar_rio_no_topo_da_educacao_135917.html)
Acesso em 8/1/2011
O nascimento do mundoNo início só havia Kore, a energia, vagando na escuridão do espaço infinito. Então, veio a luz e surgiram Ranginui, o Pai Céu, e Papatuanuku, a Mãe Terra. Rangi e Papa tiveram muitos filhos: Tangaroa, deus das águas; Tane, deus das florestas; Tawhirmatea, deus dos ventos; Tumatauenga, deus da guerra, que deu origem aos seres humanos; e Uru, que não era deus de nada.

Rangi e Papa viviam num perpétuo abraço de amantes. Acontece que esse enlace apaixonado não deixava a luz penetrar entre seus corpos, onde ficavam os filhos. Obrigados a viver apertados e sempre no escuro, os jovens resolveram dar um basta na situação.

- Vamos matar Rangi e Papa e ficar livres deles! - disse Tumatauenga.

- Não! - disse Tane. - Vamos apenas separálos, empurrando um para cima e deixando o outro embaixo. Assim sobrará espaço para nós e a luz vai poder entrar.

Todos acharam a idéia excelente.

Tane, que era o mais forte de todos, firmou bem os pés em Papa, encaixou os ombros no corpo de Rangi e o empurrou para cima com toda a força.

Os pais se separaram, mas – oh, decepção! – só um pouco de luz chegou ao mundo dos filhos. Além disso, Rangi e Papa estavam nus e, longe um do outro, sentiam muito frio.

Comovido com a situação, Tane abrigou o pai com o negro manto da noite.

Para a mãe fez um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas. Em torno dela fez ondular as águas azuis dos mares e rios de Tangaroa. Os ventos de Tawhirmatea sopravam suavemente seus cabelos. Os filhos de Tumatauenga já começavam a povoar o mundo recém-criado.

Olhando lá de cima os lindos trajes da mulher e sua participação no novo mundo, Ranginui ficou doente de inveja. Sua dor cobriu o mundo com uma névoa úmida e cinzenta.

Refugiado em uma dobra do manto paterno, Uru chorava e chorava por não ter sido útil em nada aos pais e aos irmãos. Para que ninguém percebesse suas lágrimas, escondia-as em cestas e mais cestas. Mas Tane tudo percebera:

-Uru, meu irmão, preciso de sua ajuda!

- Nada tenho para dar, você bem sabe!

- Ora, Uru, você tem tantas cestas...

Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru abaixou a cabeça: - Não tem nada dentro delas, irmão.

Tane avançou e destampou uma das cestas. Dela voaram luzes faiscantes e risonhas para todos os lados. As lágrimas de Uru haviam se transformado em crianças-luz (para nós, estrelas)!

- Uru, será que você podia me ceder duas de suas cestas? Seus filhos poderiam enfeitar e iluminar a morada de nosso pai... Uru concordou. As duas cestas foram passadas para Te Waka o Tamareriti, uma canoa muito especial. Tane conduziu a canoa até o céu, espalhando sobre o manto de Rangi milhares de estrelinhas que riam e piscavam umas para as outras o tempo todo.

Quando Tane ia pegar a segunda cesta, esta tombou e se abriu, deixando as estrelas se espalharem numa grande faixa chamada Ikaroa, que cruzou o céu de lado a lado (para nós, a Via Láctea). Tane deixou Ikaroa e Waka o Tamareriti (que é a "cauda" da nossa constelação do Escorpião) no espaço celeste, onde se tornaram os guardiões das estrelas.

Lenda maori recontada por Maria de la Luz, ilustrada por Kipper

(Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/coletaneas/nascimento-mundo-543559.shtml)



No tempo em que os bichos falavam

Houve um tempo em que os bichos falavam, e eles falavam tanto que Esopo resolveu recolher e contar as histórias deles para todo mundo.

Esopo era escravo de um rei da Grécia e divertia-se inventando uma moral para as histórias que ouvia dos animais.

Na verdade, nem todos os moradores do país eram capazes de entender a linguagem dos animais, mas Esopo era. Sobretudo dos pequeninos, que falavam muito baixinho, como por exemplo os ratinhos que moravam num buraco da parede da cozinha do palácio.

Um dia, quando limpava o chão da cozinha, Esopo ouviu uns ruídos que vinham de dentro do buraquinho. Os ratinhos estavam muito agitados e preocupados, pois o rei havia colocado um gato grande e forte para tomar conta dos petiscos reais e o tal gato não era de brincar em serviço, já tinha devorado vários ratos.

Esopo apurou os ouvidos e pôde ouvir tudo o que os ratinhos diziam. Um deles, muito espevitado, parecia ser o líder e, de cima de uma caixa de fósforos, discursava:

– Meus amigos, assim não é mais possível, não temos mais paz e tudo porque o rei resolveu trazer aquela fera para cá. Precisamos fazer alguma coisa, e logo, porque senão esse gato vai acabar com a nossa raça!

Era uma assembléia de ratos e todos estavam muito empenhados em solucionar o problema que os afligia: um gato, grande e forte, que o rei havia mandado colocar na cozinha.

Já tinham perdido vários amigos nos dentes afiados da fera: o Provolone, o Roquefort, o Camembert e o pobre Tatá, o mais amado de todos.

Planejaram, planejaram e não conseguiram chegar a nenhuma conclusão que agradasse a todos. Precisavam de estratégias eficazes e seguras.

Uns achavam que deveriam matar o tal gato; outros diziam que era impossível: “Como matar uma fera daquelas?”

Horácio estava quase convencido de que a sina de seu povo era morrer entre os dentes do gato. Com lágrimas nos olhos, já ia descendo da caixa de fósforos quando Frederico, um ratinho muito tímido que nunca falava, resolveu dar sua opinião:

– Como vocês sabem, eu não gosto muito de falar, por isso serei rápido, mas antes vocês vão responder a uma pergunta: Por que esse gato é tão perigoso para nós, se somos tão ágeis e espertos?

E Horácio respondeu:

– Ora, Frederico, esse gato é silencioso, não faz nenhum barulho. Como é que vamos saber quando ele se aproxima?

– Exatamente como eu pensei. Me perdoem a modéstia, mas acho que a idéia que tive é a melhor de todas as que ouvi aqui. Vejam só, é simples: Vamos arrumar um guizo, pode ser até aquele que pegamos da roupa do bobo da corte. Lembram? Aquele que achamos bonitinho e que faz um barulho enorme.

Os ratos não estavam entendendo nada, para que serviria um guizo?

Frederico tratou de explicar:

– A gente pega o guizo e coloca no pescoço do gato. Quando ele se aproximar, vamos ouvir o barulho e fugir. Não é simples?

Todos adoraram a idéia. Era só colocar o guizo que todos ouviriam o gato se aproximar.

Todos os ratos foram abraçar Frederico e estavam na maior euforia quando, de repente, um ratinho, que não parava de roer um apetitoso pedaço de queijo, resolveu perguntar:

– Mas quem é que vai colocar o guizo no pescoço do gato?

Todos saíram cabisbaixos. Como não haviam pensado naquilo antes?

Era o fim da euforia dos ratinhos. Para Esopo, a moral da história era a seguinte: “Não adianta ter boas idéias se não temos quem as coloque em prática”. Ou ainda: “Inventar é uma coisa, colocar em prática é outra”.

Fábula de Esopo recontada por Georgina Martins, ilustrada por Evandro Luiz

(Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/coletaneas/tempo-bichos-falavam-543574.shtml)
A lenda do preguiçoso
Diz que era uma vez um homem que era o mais preguiçoso que já se viu debaixo do céu e acima da terra. Ao nascer nem chorou, e se pudesse falar teria dito:

“Choro não. Depois eu choro”.

Também a culpa não era do pobre. Foi o pai que fez pouco caso quando a parteira ralhou com ele: “Não cruze as pernas, moço. Não presta! Atrasa o menino pra nascer e ele pode crescer na preguiça, manhoso”.

E a sina se cumpriu. Cresceu o menino na maior preguiça e fastio. Nada de roça, nada de lida, tanto que um dia o moço se viu sozinho no pequeno sítio da família onde já não se plantava nada. O mato foi crescendo em volta da casa e ele já não tinha o que comer. Vai então que ele chama o vizinho, que era também seu compadre, e pede pra ser enterrado ainda vivo. O outro, no começo, não queria atender ao estranho pedido, mas quando se lembrou de que negar favor e desejo de compadre dá sete anos de azar...

E lá se foi o cortejo. Ia carregado por alguns poucos, nos braços de Josefina, sua rede de estimação. Quando passou diante da casa do fazendeiro mais rico da cidade, este tirou o chapéu, em sinal de respeito, e perguntou:

“Quem é que vai aí? Que Deus o tenha!”

“Deus não tem ainda, não, moço. Tá vivo.”

E quando o fazendeiro soube que era porque não tinha mais o que comer, ofereceu dez sacas de arroz. O preguiçoso levantou a aba do chapéu e ainda da rede cochichou no ouvido do homem:

“Moço, esse seu arroz tá escolhidinho, limpinho e fritinho?”

“Tá não.”

“Então toque o enterro, pessoal.”

E é por isso que se diz que é preciso prestar atenção nas crendices e superstições da ciência popular.

Lenda recontada por Giba Pedroza, ilustrada por Orlando

(Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/coletaneas/lenda-preguicoso-543556.shtml)


Viola no saco
Vocês sabem por que quando alguém perde uma discussão, ou coisa assim, e tem de se calar, se diz que “fulano meteu a viola no saco”? Pois eu vou contar.

Há muito tempo, quando os bichos falavam e muitas coisas eram diferentes, havia muita festança no mundo. Um dia houve uma festa no céu e todos os bichos foram convidados. Entre eles, um dos mais esperados era o Urubu, porque as danças dependiam das músicas que ele tocava na viola.

No dia da festa, o Urubu enfiou sua viola no saco e, antes de iniciar a viagem, foi beber água na lagoa. Lá encontrou o Sapo Cururu, que se secava ao sol. Enquanto o Urubu bebia, o espertalhão do Cururu, que também queria ir à festa, se escondeu dentro da viola para viajar de carona.

Quando o Urubu chegou ao céu, foi muito bem recebido, pois todos esperavam por ele para começar a dançar o cateretê e a quadrilha. Mas antes o chamaram para beber umas e outras.

O Urubu foi, deixando a viola encostada num canto. O Cururu aproveitou para pular da viola sem ser visto e foi se empanturrar com os quitutes da festa. O Urubu também comeu e bebeu até não poder mais e não viu que o Cururu, aproveitando uma distração sua, se escondera de novo dentro da viola para tornar a tirar uma carona na volta para a terra.

Quando chegou a hora de voltar, o Urubu guardou a viola no saco e saiu voando de volta para casa. Durante o vôo, estranhou que a viola estivesse tão pesada. “Na vinda foi fácil, mas na volta está difícil. Será que fiquei fraco de tanto comer e beber?”, pensou ele. Por via das dúvidas, examinou o saco com a viola e acabou descobrindo o malandro do Sapo Cururu agachado lá dentro. Furioso por ser usado desse jeito, o Urubu começou a sacudir o saco com a viola, para despejar o Cururu lá do alto e se ver livre dele.

O Cururu, com medo de se esborrachar no chão pedregoso lá em baixo, recorreu à sua proverbial esperteza e começou a gritar: “Urubu, Urubu, me jogue sobre uma pedra, não me jogue na água, que eu morro afogado!”.

O Urubu, tolo, querendo se vingar do Sapo, viu lá de cima uma lagoa e tratou logo de despejar o Sapo dentro d’água, que era pra ele se afogar. O espertalhão do Cururu, que só queria era isso mesmo, saiu nadando, feliz da vida. O bobão do Urubu só não ficou “a ver navios” porque não havia navios naquela lagoa. E é por isso que, quando alguém perde a partida e tem de sair quieto e calado, dizem que “fulano teve de meter a viola no saco”...

Fábula recontada por Tatiana Belinky, ilustrada por Rogério Borges

(Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/coletaneas/viola-saco-543030.shtml)

Calvin, Haroldo e seus amigos | Língua Portuguesa | Nova Escola

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Michael Jackson - Will you be there (Free Willy song)