domingo, 27 de fevereiro de 2011

27 de fevereiro - dia do leitor

"Ao ler, voce viaja sem os inconvenientes da viagem propriamente dita, penetra em mundos dos quais volta mais humano e mais sábio". Ruy Castro

"Três coisas precisa o homem para ser feliz: benção divina, livros e amigos. " ( Henri Lacordaire )

"A leitura deve ser para o espírito, como o alimento para o corpo, moderada, saudável e digerível". (François Fénelon)

O escritor francês Daniel Pennac em seu livro“Como um romance”, aborda um tema desconhecido no Brasil: os direitos do leitor. O autor lança um manifesto contra “a obrigação de ler”, postura esta que vem afastando os jovens dos livros, massacrados pela imposição de critérios que não respeitam principalmente a individualidade do leitor. Acredita que, se houvesse alguma liberdade no ato de ler, mais estudantes desenvolveriam o gosto pela leitura.

Fonte: http://aprendizdeescritor.com.br/dianacionaldolivro2008/#more-286

Os direitos do leitor

Os 10 mandamentos do leitor segundo Daniel Pennac

  1. o direito de não ler
  2. o direito de pular páginas
  3. o direito de não terminar um livro
  4. o direito de reler
  5. o direito de ler qualquer coisa
  6. o direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível)
  7. o direito de ler em qualquer lugar
  8. o direito de ler uma frase aqui e outra ali
  9. o direito de ler em voz alta
  10. o direito de calar
Fonte: http://www.galanet.be/dossier/fichiers/PARA%20GOSTAR%20DE%20LER.doc

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Colégio Estadual Bairro Jardim América
Língua Portuguesa/Literatura

Dependência – Ano: 2011

Programa para o 8º ano/Ensino Fundamental

Professora Evanete B. Lima


Objetivos específicos:

  • Observar os aspectos característicos dos gêneros textuais abaixo:

conto, crônica, romance, poema, cordel, canção, notícia, propaganda, tira, história em quadrinhos (HQs), charge.

  • Observar a funcionalidade (função), fina lidade e nível de formalidade do texto conforme a situação interlocutiva.

  • Observar o foco narrativo do texto (1ª ou 3ª pessoa).

  • Reconhecer o s elementos da narrativa e seus aspect os ficcionais e não ficcionais: narrador, personagens, enredo (s equência de acontecimentos), tempo, espaço. Observar a incorporação de dados da realidade no universo ficcional.

  • Relacionar linguagem verbal à não verbal.

  • Identificar os interlocutores (emissor e receptor) no interior do texto.

  • Identificar os efeitos de ironia e/ou hu mor nas charges.

  • Observar o encadeamento lógico do texto (coesão e coerência): estabelecer relação de causa e conseqüência entre partes e elementos do texto e entre as informações verbais e os recursos gráficos (tabelas, gráficos, ilustrações). Reconhecer os elementos responsáveis pela coesão textual (con ectivos).

  • Reconhecer os elementos caracterizadores do substantivo (adjetivo, locuções adjetivas e orações adjetivas) e elementos circunstanciais (advérbios, expressões adverbiais, orações adverbiais).

  • Observar a concordância entre sujeito e verbo e a transitividade do verbo.

  • Perceber a ocorrência de variação na língua, reconhecendo, nos textos, características regionais.

  • Reconhecer o caráter denotativo (linguagem literal) ou conotativo (linguagem figurada) do texto.


Atividades a serem realizadas

I. Resolução de 20 questões, com base no conteúdo programático (abaixo).

II. Para resolução das questões, além do uso do dicionário, fazer a leitura do Prólogo e do capítulo 19 (Despedidas) do livro crepúsculo de Stephanie Meyer e do conto Noite de Almirante de Machado de Assis. Esse material está disponível no seguinte BLOG:

http://evanete-projetomsf.blogspot.com/

III. Avaliação presencial.


Conteúdo Programático

Gênero textual, elementos da narrativa, aspecto ficcional e não ficcional, linguagem verbal e não verbal, elementos da comunicação (emissor e receptor), discurso direto e indireto, ironia e humor na charge, relação de causa e consequência, coesão textual, conectivos, substantivo, adjetivo, locução adjetiva, oração adjetiva, pronome relativo, advérbio, expressões adverbiais, oração adverbial, conjunções, concordância entre sujeito e verbo, transitividade verbal, variação lingüística, denotação e conotação.


TEXTO I

Prólogo e Despedidas (Crepúsculo, cap. 19 – Stephenie Meyer)

1) O livro Crepúsculo se insere no gênero Romance. Indique características desse gênero que possam justificar essa afirmativa.

2) Identifique os elementos da narrativa no trecho “Bella? ―— Charlie estava na sala e já se colocara de pé.

3) Identifique o narrador da história e destaque um fragmento que contenha elementos que justifiquem sua resposta.

4) “gritei para ele através de minhas lágrimas, que agora fluíam sem parar.”

“A meia velha de tricô que continha minhas economias secretas.”

Os elementos destacados nos fragmentos acima são classificados gramaticalmente como pronome relativo.

a) Classifique as orações introduzidas por esses elementos.

b) Identifique os termos aos quais esses elementos fazem referência.

5) Um dos modos de estruturar um texto é a partir do emprego de elementos circunstanciais, que funcionam como conectivos (ou conectores) responsáveis pela coesão ou união lógica dos termos no enunciado. Nos fragmentos a seguir, indique as ideias contidas nos conectivos destacados.

a) “Minha mente estava vazia enquanto eu tentava pensar.

b) “Voz baixa mas animada”.

C)Apesar de ainda estar confuso, seu aperto era firme.”

d) “Ele me girou para que o olhasse.”

6) Das opções acima, indique aquela cujo elemento destacado pode ser substituído pela expressão embora.

7) “Charlie batia na minha porta.

– Bella, você está bem? O que aconteceu? – Sua voz estava assustada.” A quem se refere o termo destacado?

8)– Ele não está aqui – disse Edward, tenso. – Vamos.

Emmet estendeu a mão para me ajudar a sair do arnês.

– Não se preocupe, Bella – disse ele numa voz baixa mas animada –, vamos resolver as coisas por aqui rapidamente.

a) Quantos interlocutores estão evidenciados no fragmento acima?

b) Identifique as marcas lingüísticas que os evidenciam.

9) A narrativa em questão está estruturada a partir do discurso direto ou indireto? Indique marcas desse discurso empregadas no fragmento abaixo.

“Edward pegou minha mão.

– Encoste – disse ele enquanto a casa e Charlie desapareciam atrás de nós.

– Posso dirigir – eu disse através das lágrimas que caíam por meu rosto.”

10) Classifique os verbos destacados nos fragmentos abaixo quanto a sua transitividade.

a) “Minhas lágrimas me davam inspiração.”

b) “– Pensei que você gostasse dele.”

c) “A picape não oscilou nem um centímetro.”

11) As palavras podem ser empregadas no texto em sentido denotativo (real) ou conotativo (figurado). Identifique em que sentido empregou-se o termo destacado no fragmento abaixo e indique uma palavra que possa substituí-lo, sem alterar o sentido do texto.

“Laurent entendeu. Ele deliberou por um momento. Seus olhos atingiram cada rosto, e por fim varreram a sala iluminada.”

12) Identifique, no fragmento abaixo, os elementos caracterizadores dos substantivos e classifique-os gramaticalmente.

“Persianas de metal começaram a selar a parede de vidro.”

13) Destaque do prólogo o fragmento no qual se estabelece uma relação de causa e conseqüência.


TEXTO II

Noite de almirante (Machado de Assis)

14) Em relação ao texto em questão:

a) Identifique o gênero do texto e três de suas características presentes na estrutura de “Noite de almirante”.

b) Identifique o foco narrativo.

c) Relacione o título do conto com o enredo da narrativa.

d) Nessa narrativa, Machado mescla o discurso direto e o indireto.

d.1) Em “Deolindo declarou, com um gesto de desespero, que queria matá-lo”, identifique o tipo de discurso e diferencie-o do outro.

d.2) “— Juro por Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte.” Reescreva esse fragmento, empregando o discurso indireto e fazendo as alterações necessárias.

15) O narrador de Noite de almirante é onisciente, ou seja, é capaz de saber o que se passa na cabeça do personagem. Indique um fragmento do texto que comprove essa afirmativa.

16) Que fragmento do texto evidencia um momento em que o narrador se dirige diretamente ao leitor para fazê-lo refletir sobre a

situação de Deolindo e Genoveva?

17) Identifique se as expressões destacadas abaixo foram empregadas em sentido denotativo ou conotativo. De acordo com a resposta, indique o significado de cada uma.

a) “Estiveram prestes a dar uma cabeçada”.

b) “Concorda que nem todas seriam para os beiços dele.”

c) “Genoveva andava com a cabeça virada.”


TEXTO III

http://www2.uol.com.br/angeli

18) Identifique o gênero do texto III e defina-o.

19) Relacione o título do texto com os outros elementos verbais, considerando o modo como estão dispostos.

20) Ao observar o contexto desse texto gráfico, percebe-se que a palavra “organizada” foi empregada com um sentido oposto ao que deveria ser. O autor diz o contrário daquilo que quer dar a entender. Que efeito ele provoca com esse recurso?

A Paz (Roupa Nova)

(Nando versão original: Heal the World - Michael Jackson)

(falado) É preciso pensar um pouco nas pessoas que ainda vêm… nas crianças.
A gente tem que arrumar um jeito de deixar pra eles um lugar melhor.
Para os nossos filhos e,
Para os filhos de nossos filhos. pense bem!

(I)
Deve haver um lugar dentro do seu coração
Onde a paz brilhe mais que uma lembrança
Sem a luz que ela traz já nem se consegue mais
Encontrar o caminho da esperança

Sinta, chega o tempo de enxugar o pranto dos homens
Se fazendo irmão e estendendo a mão

Só o amor, muda o que já se fez
E a força da paz junta todos outra vez
Venha, já é hora de acender a chama da vida
E fazer a terra inteira feliz

Se você for capaz de soltar a sua voz
Pelo ar, como prece de criança
Deve então começar outros vão te acompanhar
E cantar com harmonia e esperança

Deixe, que esse canto lave o pranto do mundo
Pra trazer perdão e dividir o pão.

Só o amor, muda o que já se fez
E a força da paz junta todos outra vez
Venha, já é hora de acender a chama da vida
E fazer a terra inteira feliz

Quanta dor e sofrimento em volta a gente ainda tem,
Pra manter a fé e o sonho dos que ainda vêm.
A lição pro futuro vem da alma e do coração,
Pra buscar a paz, não olhar pra trás, com amor.

Se você começar outros vão te acompanhar
E cantar com harmonia e esperança.

Deixe, que esse canto lave o pranto do mundo
Pra trazer perdão e dividir o pão.

Só o amor, muda o que já se fez
E a força da paz junta todos outra vez
Venha, já é hora de acender a chama da vida
E fazer a terra inteira feliz

Só o amor, muda o que já se fez
E a força da paz junta todos outra vez
Venha, já é hora de acender a chama da vida
E fazer a terra inteira feliz

Só o amor, muda o que já se fez
E a força da paz junta todos outra vez
Venha, já é hora de acender a chama da vida
E fazer a terra inteira feliz

Venha, já é hora de acender a chama da vida
E fazer a terra inteira feliz

Inteira feliz
Inteira feliz
Inteira feliz
Inteira feliz
Inteira feliz

http://www.letras.com.br/roupa-nova/a-paz

Características Gerais do Conto


Extensão: o Conto é uma narrativa linear e curta, tanto em extensão quanto no tempo em que se passa. As narrativas de longa duração estão aí para confirmar a exceção da regra. E por que curto, é conciso. Não há tempo para se espalhar em grandes detalhes, em sutilezas que destoam de seus tempos, de seu necessário ritmo de leitura. Um conto deve estar contido entre algumas palavras (no caso de micro contos) até um máximo de cinco a seis mil palavras.

Linguagem: é simples e direta, não se utiliza muitas figuras de linguagem ou de expressões com pluralidade de sentidos.

Ação: todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho; elas se passam em um só espaço, constituem um só eixo temático e um só conflito.

Personagens: Envolve poucas personagens, e as que existem se movimentam em torno de uma única ação.

Linhas dramáticas: enquanto que num romance pode haver várias linhas de desenvolvimento, como por exemplo, ocorrendo o eixo principal da trama em torno do protagonista, enquanto outras linhas se constroem em torno de personagens secundários e do antagonista, no caso do conto esta linha é única. Não há a possibilidade da dispersão do foco narrativo, dado as características de concisão do conto.

Tempo: o conto não tem muito espaço para idas e vindas no tempo. A utilização de recursos como o flash-back é rara, permanecendo a narrativa quase sempre em uma única linha de encaminhamento temporal.

No conto a trama é linear, objetiva, pois o conto, ao começar, já está quase no fim e é preciso que o leitor "veja" claramente os acontecimentos. Se no romance o espaço/tempo é móvel, no conto a linearidade é a sua forma narrativa por excelência. "A intriga completa consiste na passagem de um equilíbrio a outro. A narrativa ideal, a meu ver, começa por uma situação estável que será perturbada por alguma força, resultando num desequilíbrio. Aí entra em ação outra força, inversa, restabelecendo o equilíbrio; sendo este equilíbrio parecido com o primeiro, mas nunca idêntico." (Gom Jabbar em Hardcore, baseado em Tzvetan Todorov).

Final enigmático: o final deve sempre ser uma surpresa, a resolução de um enigma, ou a inversão de uma situação que deveria seguir em direção oposta, ou que pareceria sem solução.

O suspense deve ser mantido até o último parágrafo, quando, depois de prender o leitor através de toda a sua leitura, o escritor lhe fornece a catarse – a risada, o susto, a surpresa.

Diálogos: são de suma importância; sem eles não há discórdia, conflito, fundamentais ao gênero. A melhor forma de se informar é através dos diálogos; mesmo no conto em que o ingrediente narrativo seja importante. "A função do diálogo é expor." (Henry James, 1843-1916).

Vejamos os tipos de diálogos:

  1. Direto: (discurso direto) as personagens conversam entre si; usam-se os travessões. Além de ser o mais conhecido é, também, predominante no conto.
  2. Indireto: (discurso indireto) quando o escritor resume a fala da personagem em forma narrativa, sem destacá-la. Vamos dizer que a personagem conta como aconteceu o diálogo, quase que o reproduzindo. Essas duas primeiras formas podem ser observadas no conto "A Missa do Galo", Machado de Assis.
  3. Indireto livre (discurso indireto livre) é a fusão entre autor e personagem (primeira e terceira pessoa da narrativa); o narrador narra, mas no meio da narrativa surgem diálogos indiretos da personagem como que complementando o que disse o narrador.

Focos narrativos:

  1. Primeira pessoa: Personagem principal conta sua história; este narrador limita-se ao saber de si próprio, fala de sua própria vivência. Esta é uma narrativa típica do romance epistolar (século XVIII).
  2. Terceira pessoa: O texto é narrado em 3ª pessoa e neste caso podemos ter:

A)Narrador observador: o narrador limita-se a descrever o que está acontecendo, "falando" do exterior, não nos colocando dentro da cabeça da personagem; assim não sabemos suas emoções, idéias, pensamentos. O narrador apenas descreve o que vê, no mais, especula.

B) Narrador onisciente conta a história; o narrador tudo sabe sobre a vida das personagens, sobre seus destinos, idéias, pensamentos. Como se narrasse de dentro da cabeça delas.

Contistas famosos em língua portuguesa

Machado de Assis, Aluízio Azevedo, Clarice Lispector, Lima Barreto, Otto Lara Resende, Julieta Godoy Ladeira, Manoel Lobato, Sérgio Sant’Anna, Moreira Campos, Ricardo Ramos, Edilberto Coutinho, Breno Accioly, Murilo Rubião, Moacyr Scliar, Péricles Prade, Guido Wilmar Sassi, Samuel Rawet, Domingos Pellegrini Jr, José J. Veiga, Luiz Vilela, ,Sergio Faraco, Victor Giudice, Lygia Fagundes Telles, entre outros. Em Portugal destaca-se, entre outros, Eça de Queirós.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Conto

http://www.infoescola.com/redacao/conto/

http://www.escritacriativa.net/criativa/html/caracteristicas.html

Noite de Almirante

(Machado de Assis)

Deolindo Venta-Grande (era uma alcunha de bordo) saiu do arsenal de marinha e enfiou pela rua de Bragança. Batiam três horas da tarde. Era a fina flor dos marujos e, de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos. A corveta dele voltou de uma longa viagem de instrução, e Deolindo veio à terra tão depressa alcançou licença. Os companheiros disseram-lhe, rindo:
- Ah! Venta-Grande! Que noite de almirante vai você passar! Ceia, viola e os braços de Genoveva. Colozinho de Genoveva...
Deolindo sorriu. Era assim mesmo, uma noite de almirante, que o esperava em terra. Começara a paixão três meses antes de sair a corveta. Chamava-se Genoveva, caboclinha de vinte anos, esperta, olho negro e atrevido. Encontraram-se em casa de terceiro e ficaram morrendo um pelo outro, a tal ponto que estiveram prestes, a dar uma cabeçada, ele deixaria o serviço e ela o acompanharia para a vila mais recôndita do interior.
A velha Inácia, que morava com ela, dissuadiu-os disso; Deolinda não teve remédio senão seguir em viagem de instrução. Eram oito ou dez meses de ausência. Como fiança recíproca, entenderam dever fazer um juramento de fidelidade.
— Juro por Deus que está no céu. E você?
— Eu também.
— Diz direito.
— Juro por Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte.
Estava celebrado o contrato. Não havia descrer da sinceridade de ambos; ela chorava doudamente, ele mordia o beiço para dissimular. Afinal separaram-se, Genoveva foi ver sair a corveta e voltou para casa com um tal aperto no coração que parecia que "lhe ia dar uma cousa". Não lhe deu nada, felizmente; os dias foram passando, as semanas, os meses, dez meses, ao cabo dos quais, a corveta tornou e Deolindo com ela.
Lá vai ele agora, pela rua de Bragança, Prainha e saúde, até o princípio da Gamboa, onde mora Genoveva. A casa é uma rotulazinha escura, portal rachado do sol, passando o Cemitério dos Ingleses; lá deve estar Genoveva, debruçada à janela, esperando por ele. Deolindo prepara uma palavra que lhe diga. Já formulou esta: "Jurei e cumpri", mas procura outra melhor. Ao mesmo tempo lembra as mulheres que viu por esse mundo de Cristo, italianas, marselhesas ou turcas, muitas delas bonitas, ou que lhe pareciam tais. Concorda que nem todas seriam para os beiços dele, mas algumas eram, e nem por isso fez caso de nenhuma. Só pensava em Genoveva. A mesma casinha dela, tão pequenina, e a mobília de pé quebrado, tudo velho e pouco, isso mesmo lhe lembrava deante dos palácios de outras terras. Foi à custa de muita economia que comprou em Trieste um par de brincos, que leva agora no bolso com algumas bugigangas. E ela que lhe guardaria? Pode ser que um lenço marcado com o nome dele e uma âncora na ponta, porque ela sabia marcar muito bem. Nisto chegou à Gamboa, passou o cemitério e deu com a casa fechada. Bateu, falou-lhe uma voz conhecida, a da velha Inácia, que veio abrir-lhe a porta com grandes exclamações de prazer. Deolindo, impaciente, perguntou por Genoveva.
— Não me fale nessa maluca, arremeteu a velha. Estou bem satisfeita com o conselho que lhe dei. Olhe lá se fugisse. Estava agora como o lindo amor.
— Mas que foi? Que foi?
A velha disse-lhe que descansasse, que não era nada, uma dessas cousas, que aparecem na vida; não valia a pena zangar-se. Genoveva andava com a cabeça virada...
— Mas virada por que?
— Está com um mascate, José Diogo. Conheceu José Diogo, mascate de fazendas? Está com ele. Não imagina a paixão que eles têm um pelo outro. Ela então anda maluca. Foi o motivo da nossa briga José Diogo não me saía da porta; eram conversas e mais conversas, até que eu um dia disse que não queria a minha casa difamada. Ah! Meu pai do céu! foi um dia de juízo. Genoveva investiu para mim com uns olhos deste tamanho, dizendo que nunca difamou ninguém e não precisava de esmolas. — Que esmolas, Genoveva? O que digo é que não quero esses cochichos à porta, desde as aves- marias... Dous dias depois estava mudada e brigada comigo.
— Onde mora ela?
— Na praia Formosa, antes de chegar à pedreira, uma rótula pintada de novo.
Deolindo não quis ouvir mais nada. A velha Inácia, um tanto arrependida, ainda lhe deu avisos de prudência, mas ele não os escutou e foi andando. Deixo de notar o que pensou em todo o caminho; não pensou nada. As idéias marinhavam-lhe no cérebro, como em hora de temporal, no meio de uma confusão de ventos e apitos. Entre elas rutilou a faca de bordo, ensangüentada e vingadora. Tinha passado a Gamboa, o Saco do Alferes, entrara na praia Formosa. Não sabia o número da casa, mas era perto da pedreira, pintada de novo, e com auxilio da vizinhança poderia achá-la. Não contou com o acaso que pegou de Genoveva e fê-la sentar à janela, cosendo, no momento em que Deolindo ia passando. Ele conheceu-a e parou; ela vendo o vulto de um homem, levantou os olhos e deu com o marujo.
— Que é isso? exclamou espantada. Quando chegou? Entre, seu Deolindo.
E, levantando-se, abriu a rótula e fê-lo entrar. Qualquer outro homem ficaria alvoroçado de esperanças, tão francas eram as maneiras da rapariga; podia ser que a velha se enganasse ou mentisse; podia ser mesmo que a cantiga do mascate estivesse acabada. Tudo isso lhe passou pela cabeça, sem a forma precisa do raciocínio ou da reflexão, mas em tumulto e rápido. Genoveva deixou a porta aberta, fê-lo sentar-se, pediu-lhe notícias da viagem e achou-o mais gordo; nenhuma comoção nem intimidade. Deolindo perdeu a última esperança. Em falta de faca, bastavam-lhe as maõs para estrangular Genoveva, que era um pedacinho de gente, e durante os primeiros minutos não pensou em outra cousa.
— Sei tudo, disse ele.
— Quem lhe contou?
Deolindo levantou os ombros.
— Fosse quem fosse, tornou ela, disseram-lhe que eu gostava muito de um moço?
— Disseram.
— Disseram a verdade.
Deolindo chegou a ter um ímpeto; ela fê-lo parar só com a ação dos olhos. Em seguida disse que, se lhe abrira a porta, é porque contava que era homem de juízo. Contou-lhe então tudo, as saudades que curtira, as propostas do mascate, as suas recusas, até que um dia, sem saber como, amanhecera gostando dele.
— Pode crer que pensei muito e muito em você. Sinhá Inácia que lhe diga se não chorei muito... Mas o coração mudou... Mudou... Conto-lhe tudo isto, como se estivesse diante do padre, concluiu sorrindo.
Não sorria de escárnio. A expressão das palavras é que era uma mescla da candura e cinismo, de insolência e simplicidade, que desisto de definir melhor. Creio até que insolência e cinismo são mal aplicados. Genoveva não de defendia de um erro ou de um perjúrio; não se defendia de nada; faltava-lhe o padrão moral das ações. O que dizia, em resumo, é que era melhor não ter mudado, dava-se bem com a afeição do Deolindo, a prova é que quis fugir com ele; mas, uma vez que o mascate venceu o marujo, a razão era do mascate, e cumpria declará-lo. Que vos parece? O pobre marujo citava o juramento de despedida, como uma obrigação eterna, diante da qual consentira em não fugir e embarcar: "Juro por Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte". Se embarcou, foi porque ela lhe jurou isso. Com essas palavras é que andou, viajou, esperou e tornou; foram elas que lhe deram a força de viver. Juro por Deus que está no céu; a luz a luz me falte na hora da morte..
— Pois, sim, Deolindo, era verdade. Quando jurei, era verdade. Tanto era verdade que eu queria fugir com você para o sertão. Só Deus sabe se era verdade! Mas vieram outras cousas... Veio este moço e eu comecei a gostar dele...
— Mas a gente jura é para isso mesmo; é para não gostar de mais ninguém...
— Deixa disso, Deolindo. Então você só se lembrou de mim? Deixa de partes...
— A que horas volta José Diogo?
— Não volta hoje.
— Não?
— Não volta; está lá para os lados de Guaratiba com a caixa; deve voltar sexta-feira ou sábado... E por que é que você quer saber? Que mal lhe fez ele?
Pode ser que qualquer outra mulher tivesse egual palavra; poucas lhe dariam uma expressão tão cândida, não de propósito, mas involuntariamente. Vede que estamos aqui muito próximos da natureza. Que mal lhe fez ele? Que mal lhe fez está pedra que caiu de cima? Qualquer mestre da física lhe explicaria a queda das pedras. Deolindo declarou, com um gesto de desespero, que queria matá-lo. Genoveva olhou para ele com desprezo, sorriu de leve e deu um muxoxo, e, como ele lhe falasse de ingratidão e perjúrio, não pode disfarçar o pasmo. Que perjúrio? que ingratidão? Já lhe tinha dito e repetia que quando jurou era verdade. Nossa Senhora, que ali estava, em cima da cômoda, sabia se era verdade ou não. Era assim que lhe pagava o que padeceu? E ele que tanto enchia a boca de fidelidade, tinha-se lembrado dela por onde andou?
A resposta dele foi meter a mão no bolso e tirar o pacote que lhe trazia. Ela abriu-o, aventou as bugigangas, uma por uma, e por fim deu com os brincos. Não eram nem poderiam ser ricos; eram mesmo de mau gosto, mas faziam uma vista de todos os diabos. Genoveva pegou deles, contente, deslumbrada, mirou-os por um lado e outro, perto e longe dos olhos, e afinal enfiou-os nas orelhas; depois foi ao espelho de pataca, suspenso na parede, entre a janela e a rótula, para ver o efeito que lhe faziam. Recuou, aproximou-se, voltou a cabeça da direita para a esquerda e da esquerda para a direita.
— Sim, senhor, muito bonitos, disse ela, fazendo uma grande mesura de agradecimento. Onde é que comprou?
Creio que ele não respondeu nada, não teria tempo para isso, porque ela disparou mais duas ou três perguntas, uma atrás da outra, tão confusa estava de receber um mimo a troco de um esquecimento. Confusão de cinco ou quatro minutos; pode ser que dous. Não tardou que tirasse os brincos, e os contemplasse e pusesse na caixinha em cima da mesa redonda que estava no meio da sala. Ele pela sua parte começou a cré que, assim como a perdeu, estando ausente, assim o outro, ausente, podia também perdê-la; e, provavelmente, ela não lhe jurara nada.
— Brincando, brincando, é noite, disse Genoveva.
Com efeito, a noite ia caindo rapidamente. Já não podiam ver o hospital dos Lázaros e mal distinguiam a ilha dos Melões; as mesmas lanchas e canoas, postas em seco, defronte da casa, confundiam-se com a terra e o lado da praia. Genoveva acendeu uma vela. Depois foi sentar-se na soleira da porta e pediu-lhe que contasse alguma cousa das terras por onde andara. Deolindo recusou a princípio; disse que se ia embora, levantou-se e deu alguns passos na sala. Mas o demônio da esperança mordia e babujava o coração do pobre diabo, e ele voltou a sentar-se, para dizer duas ou três anedotas de bordo. Genoveva escutava com atenção. Interrompidos por uma mulher da vizinhança, que ali veio, Genoveva fê-la sentar-se também para ouvir "as bonitas histórias que o Senhor Deolindo estava contando". Não houve outra apresentação. A grande dama que prolonga a virgília para concluir a leitura de um livro ou de um capítulo, não vive mais intimamente a vida dos personagens do que a antiga amante do marujo vivia as cenas que ele ia contando, tão livremente interessada e presa, como se entre ambos não houvesse mais que uma narração de episódios. Que importa à grande dama o autor do livro? Que importava a esta rapariga o contador dos episódios?
A esperança, entretanto, começava a desampará-lo e ele levantou-se definitivamente para sair. Genoveva não quis deixá-lo sair antes que a amiga visse os brincos, e foi mostrar-lhos com grandes encarecimentos. A outra ficou encantada, elogiou-os muito, perguntou se os comprara em França e pediu a Genoveva que os pusesse.
— Realmente, são muito bonitos.
Quero crer que o próprio marujo concordou com essa opinião. Gostou de os ver, achou que pareciam feitos para ela e, durante alguns segundos, saboreou o prazer exclusivo e superfino de haver dado um bom presente; mas foram só alguns segundos.
Como ele se despedisse, Genoveva acompanhou-o até a porta para lhe agradecer ainda uma vez o mimo, e provavelmente dizer-lhe algumas cousas meigas e inúteis. A amiga, que deixara ficar na sala, apenas lhe ouviu esta palavra: "Deixa disso Deolindo"; e esta outra do marinheiro: "Você vera". Não poude ouvir o resto, que não passou de um sussurro.
Deolindo seguiu, praia fora cabisbaixo e lento, não já o rapaz impetuoso da tarde, mas com um ar de velho e triste, ou, para usar outra metáfora de marujo, como um homem "que vai do meio caminho para a terra". Genoveva entrou logo depois, alegre e barulhenta. Contou à outra a anedota dos seus amores marítimos, gabou muito o gênio de Deolindo e os seus bonitos modos; a amiga declarou achá-lo grandemente simpático.
— Muito bom rapaz, insistiu Genoveva. Sabe o que ele me disse agora?
— Que foi?
— Que vai matar-se.
— Jesus!
— Qual o quê! Não se mata, não. Deolindo é assim mesmo; diz as cousas, mas não faz. Você verá que não se mata. Coitado, são ciúmes. Mas os brincos são muitos engraçados.
— Eu aqui ainda não vi destes.
— Nem eu, concordou Genoveva, examinando-os à luz. Depois guardou-os e convidou a outra a coser. — Vamos coser um bocadinho, quero acabar o meu corpinho azul...
A verdade é que o marinheiro não se matou. No dia seguinte, alguns dos companheiros bateram-lhe no ombro, cumprimentando-o pela noite de almirante, e pediram-lhe notícias de Genoveva, se estava mais bonita, se chorara muito na ausência, etc. Ele respondia a tudo com um sorriso satisfeito e discreto, um sorriso de pessoa que viveu uma grande noite. Parece que teve vergonha da realidade e preferiu mentir.

(Publicado originalmente na Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1884).